Bett Brasil 2023 aponta os caminhos para melhorar os cuidados com a saúde mental dos adolescentes


 

Evento também trouxe dados sobre o currículo de tecnologias digitais que não é contemplado em 37% das escolas municipais

O crescente aumento no número de ataques violentos às escolas vem preocupando pais, alunos, educadores e gestores. De setembro de 2022 a abril de 2023, ao menos cinco escolas sofreram com algum tipo de violência no Brasil. Durante a Bett Brasil 2023, maior evento de educação e tecnologia da América Latina, especialistas discutiram as relações entre os casos e, mais do que nunca, enalteceram a importância do diálogo, da escuta e da saúde mental dentro dos espaços de ensino. O evento segue até a próxima sexta-feira (12), no Transamerica Expo Center. 

Em um painel dedicado ao tema, a professora da Faculdade de Educação da Unicamp, Telma Vinha, apresentou as principais características e motivações dos agressores para cometerem tais atos. “O foco principal, ainda que não exclusivamente, é a escola. E isso pode acontecer em qualquer unidade de ensino. De alguma forma, a escola é o palco de algum episódio de sofrimento do estudante que comete esses atos”, explica. 

De acordo com a especialista, o perfil dos praticantes desse tipo de violência é formado majoritariamente por pessoas do sexo masculino, jovens (de 10 a 25 anos), brancos, com valores opressores e gosto pela violência. Esses agressores, geralmente, também estão ligados a alguma comunidade de ódio na internet. “Essas pessoas buscam pertencimento, então, como não possuem esse protagonismo em outros ambientes, acabam entrando em grupos extremistas que funcionam de forma online. Nestas comunidades eles são valorizados e ouvidos, o que os faz cometer tais crimes por notoriedade”, afirma Telma. A painelista alerta ainda que esse protagonismo na internet não acontece mais apenas na deep web: está também nas plataformas e redes sociais comuns e tradicionalmente usadas pelos jovens. 

De acordo com dados apresentados durante a palestra, o primeiro ataque à escola no Brasil foi registrado em 2002, na Bahia. Nos últimos 21 anos, foram identificados 22 ataques cometidos por estudantes e ex-estudantes que resultaram em 35 vítimas fatais. Ainda segundo o estudo, a maior parte desses ataques aconteceu em escolas públicas (10 estaduais, 9 municipais e 4 particulares) localizadas em regiões com baixo índice de vulnerabilidade, ou seja, fora das periferias. O espaçamento entre os crimes também preocupa, uma vez que estão se tornando cada vez mais frequentes. 

Para mudar essa realidade, a docente aponta como prioridade a escuta e o acolhimento, especialmente nas escolas. “Política pública não deve se resumir à segurança e à vigilância, isso não muda valores. Esse é um problema sociológico e cultural, do qual precisamos tratar com acompanhamento, mediação e dar a esses jovens o seu lugar de pertencimento. A escola pode ser promotora do bem-estar”, destaca. 

Para Juliana Hampshire, psicanalista e painelista, esse cuidado deve se estender também aos professores, que se encontram, muitas vezes, sobrecarregados em tarefas e em emoções. “A escola precisa de mais tempo, especialmente para o desenvolvimento dos professores. É preciso mais tempo para ouvir, para entender, para se relacionar. A rapidez com a qual as coisas acontecem hoje não permite uma escuta ativa e dificulta a comunicação, especialmente com a juventude. É preciso trabalhar isso”. 

Pesquisa inédita sobre Tecnologias Digitais nas escolas municipais

O cenário de ensino de tecnologias digitais nas escolas municipais do Brasil é desafiador e está distante de refletir o que é previsto pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Esta é a conclusão evidenciada pela pesquisa “Tecnologias Digitais nas escolas municipais do Brasil: cenário e recomendações”, lançada nesta quarta-feira (10) com exclusividade para Bett Brasil

O levantamento revelou que 37% das redes municipais não contemplam o ensino de Tecnologia e Computação no currículo da Educação Infantil e, no Ensino Fundamental, nos anos finais e iniciais, o índice ficou em 21% e 17%, respectivamente. O estudo foi desenvolvido em parceria pelo Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB), Fundação Telefônica Vivo, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e, com apoio técnico do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede). A pesquisa foi realizada em 1.065 redes municipais de ensino, nas cinco regiões do país. 

“Temos que incentivar o compartilhamento de expertise e experiências entre os municípios das capitais com as cidades menores. A pesquisa apontou um gap entre as redes de ensino localizadas em capitais e aquelas que estão situadas em municípios menores. Acredito que essa pesquisa será uma norteadora nacional para colocar em evidência esse tema e auxiliar na implementação do ensino de tecnologias digitais nas escolas, alinhadas à BNCC”, explica o presidente da Undime Luiz Miguel Garcia

Em relação aos orçamentos e estruturas de apoio das secretarias de Educação para o uso de tecnologias digitais nas unidades de ensino, a pesquisa apontou que 73% das redes municipais não possuem uma área e/ou equipe específica dedicada ao planejamento e à implementação de tecnologias digitais nas escolas. 

diretora-executiva do CIEB, Julia Sant’Anna, comentou que a pesquisa deve alavancar o processo de continuidade de transformação das políticas públicas na área de Educação. Ela também destacou a importância da proatividade dos secretários estaduais e municipais em estabelecer medidas como a busca de talentos dentro das próprias equipes e o planejamento de ações direcionadas com o mapeamento de todas as necessidades de cada escola ranqueadas por prioridades. 

Para a diretora-presidente da Fundação Telefônica Vivo, Lia Glaz, um dos pontos de atenção da pesquisa é a formação de docentes habilitados para desenvolver essas competências digitais em sala de aula. O estudo mostra que 39% das redes municipais não possuem formação continuada para os docentes sobre essa temática. Entre as capitais, todas afirmaram existir esse tipo de oferta. “É fundamental que a temática do ensino de tecnologias digitais seja pensada para implementação desde o Ensino Infantil porque quem vai ficar para trás - se isso não acontecer - são aqueles com menos condições socioeconômicas”, disse. Outro ponto levantado por Glaz é sobre a formação de docentes que estão habilitados para desenvolver essas competências digitais em sala de aula.  

Lançamento de um novo mapa do Minecraft 

A Bett Brasil foi palco do lançamento de um novo mapa do Minecraft Educational, plataforma gamificada da Microsoft. “A Terra Não Minerável”, como o próprio nome sugere, torna impossível ao jogador fazer a mineração do solo, subvertendo, assim, a lógica do jogo. De acordo com a empresa, não importa o quanto o jogador tente, ele não conseguirá minerar o solo. Ao invés disso, ele poderá recriar a fauna e a flora da Amazônia no game, abrindo um espaço de aprendizagem em uma viagem pela floresta, formada pelos povos originários, seus rios, árvores, pássaros, fogueiras, entre outros elementos.

Todo projeto foi desenvolvido pelo consultor pedagógico Francisco Tupy, professor, geógrafo, especialista em mundos pedagógicos virtuais e primeiro #MieexpertFellow da América Latina. “Foi um desafio criar algo completamente novo, soluções a partir da linguagem do Minecraft, que é um processo de muito aprendizado e dinâmico. Essa é a primeira vez no mundo que no jogo não é possível minerar, se o estudante tentar cavar, ele não conseguirá formar um bloco. A proposta é que cumpra seu papel pedagógico e consciente sobre um assunto de extrema emergência para a humanindade", disse Tupy.

 

Bett Brasil 2023

Data: 9 a 12 de maio.

Local: Transamerica Expo Center (São Paulo).

Horário: 9 às 19 horas.

Site: Bett Brasil

Agenda/Programação Completa: Clique aqui

Comentários

Postagens mais visitadas