"Todos os jogos, o jogo": Galeria Lume abre exposição em homenagem ao futebol

Coletiva apresenta maquetes, fotocópias e fotografias de três artistas apaixonados pelo mais popular esporte praticado no Brasil - o futebol. O nome para a exposição surgiu a partir de um texto de Agnaldo Farias, o qual, por sua vez, faz referência ao livro "Todos os fogos o fogo", de Julio Cortázar

 Alberto Ferreira, série “Futebol”. Bicicleta de Pelé G, 1965.

Leia o texto Todos os jogos, o jogo, do curador e crítico de arte Agnaldo Farias, que deu origem ao título da exposição.

A partir do dia 22 de outubro, a Galeria Lume irá exibir a exposição “Todos os jogos, o jogo”, em homenagem à mais popular de todas as práticas esportivas – o futebol –, trazendo obras contemplativas e emblemáticas que representam o esporte. O fotógrafo Alberto Ferreira e a artista Ana Vitória Mussi exibem, respectivamente, fotografias e fotocópias de momentos icônicos do futebol brasileiro. Além deles, o artista plástico Eduardo Coimbra traz a série Estádios, maquetes criadas para diferentes jogos de futebol, que sugerem novos sonhos, outras jogadas entre as quatro linhas que delimitam o campo. Cada estádio possui um desenho e regras próprias, embora todas baseadas nas regras do jogo tradicional. A curadoria e o texto crítico são assinados por Paulo Kassab Jr..

A mostra se propõe a revelar a beleza e as possibilidades que o futebol oferece, a partir de obras de artistas conectados de alguma forma ao esporte – seja em suas vidas profissionais ou pessoais. Afinal, o futebol é uma prática que está na alma do brasileiro, capaz de adentrar os lugares mais inusitados justamente por ser democrático e não exigir mais do que uma bola, alguns pés e duas traves improvisadas. É com isso em vista que a Galeria Lume busca homenagear a magnitude e a magia do esporte, o gesto simples e magistral, o craque de pés descalços, o improviso, a quadra riscada em giz no asfalto das ruas ou delimitada com chinelos em terrenos baldios, as traves improvisadas e o êxtase do grito insuperável do gol.

Para o curador e sócio da galeria, o futebol deve ser visto como lugar de poesia, exaltação e delírio, espaço da imaginação e da engenhosidade. “Muito antes de industrializar a pelada, tomarem de assalto a espontaneidade em prol do resultado, fazerem dos clubes empresas e da grande empresa que os controla, máfia, já existia a bola que, mesmo quando feita de pano, estopa, meia ou papel, girava e transformava àqueles que dançam com ela, a acariciam e embalam no peito dos pés, em ídolos", comenta Kassab Jr.

Sobre os artistas

Alberto Ferreira (1932 - 2007) foi fotógrafo e a primeira pessoa a trazer a fotografia do futebol para o Jornalismo, ajudando a fundar a área de jornalismo esportivo dentro do Jornal do Brasil. Saiu do estado da Paraíba e foi para o Rio de Janeiro porque queria ser goleiro do Flamengo, mas na primeira partida tomou 11 gols. Depois, então, foi chamado para trabalhar com fotografia no Jornal do Brasil, onde fez duas fotos icônicas – presentes na exposição. Uma delas ganhou o Prêmio Esso (atualmente intitulado “Prêmio ExxonMobil de Jornalismo”) em 1963, por uma foto que Alberto fez na Copa do Mundo de 1962, quando Pelé se machucou – na foto o jogador aparece meio curvado – ‘O Rei se curva diante da dor que o Brasil inteiro sentiu’. E a outra foto, a mais conhecida – ‘Bicicleta do Pelé G’ (foto de destaque), 1965 – acabou se tornando símbolo do atleta, a imagem pela qual ele é muito reconhecido hoje em dia.

Ana Vitória Mussi é artista-fotógrafa e sempre esteve muito ligada ao esporte no geral, mas com maior ênfase para o futebol. Fotografou eventos sob o viés da sua forma de enxergar o jogo como uma questão de embate social por meio da própria imagem e estética do jogo. Em sua obra “Quadra”, da Série de fotos TRAMAS, por exemplo, a artista faz recortes geométricos, como se estivesse desconstruindo o campo de jogo; e, em outras obras, mostra transparências de imagens de jogadas clássicas do futebol na Copa do Brasil em 2002, onde é possível ver com mais clareza o que se passa entre um jogador e outro, as minúcias das interações entre eles – como se houvesse sido colocada uma lente de aumento nos olhos do espectador que assiste ao jogo.

Eduardo Coimbra é vascaíno e apaixonado por futebol; o qual, para ele, “é, entre todos os jogos, o jogo; é a prática da liberdade e da necessária evasão da vida real”. O artista produziu a série de maquetes “Estádios” (2011 - 2014), em que são propostas diferentes formas de jogar o futebol. Cada possibilidade de jogo enfatiza certas características intrínsecas da modalidade, como o drible, o conjunto, o equilíbrio, o toque de bola, a rapidez de raciocínio, a precisão dos chutes, etc. O formato dos campos e as regras de cada jogo condicionam os jogadores a privilegiarem uma ou outra dessas características na realização das jogadas. 

Ao contrário de um espaço neutro para a audiência, circular ou oval, esses estádios apresentam uma arquitetura que transfere ao público a dinâmica espacial vivenciada pelos jogadores em campo – seus movimentos e bloqueios, ou a forma do jogo estão de alguma maneira impregnados na forma das arquibancadas, e a audiência ocupa lugares distintos no ‘espaço do jogo’. Assim, cada objeto arquitetônico está diretamente relacionado a um certo tipo de jogo, tornando-se o protagonista de uma sintonia espacial entre o público e o espetáculo. 

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